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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Amores Imperfeitos - Daisi Oliveira de Souza







Quantas vezes mentimos, escondemos nossas manias
Ocultamos a  face verdadeira para obter regalias,
Não  tem jeito, a busca é por amores perfeitos,
Donzelas medievais, mártires da vida ainda atraem,
E esses não existem  mais – Apenas são seres normais;

Tristes almas  camufladas, morrem crendo em fantasias,
Debruçadas em seus medos  olhos fixos  nas mentiras,
Palavras e mais palavras voam pelo mundo sem sentido,
Incapazes  de amar, usadas  somente para florear
Aquilo que já é sabido, tão falso quanto um anel de vidro,

São tantas as mazelas ditas  para  fazer a conquista,
que terminam  sem saída - presas  pela própria língua,
Não há mais o que ser dito quando é da boca pra fora,
Quando o coração emudece, só a boca por amor  implora.

Daisi Oliveira de Souza
In “Sob Meu Olhar”
Lei 9610/98

Semeadura - Daisi Oliveira de Souza





quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Devagar ... Sem pressa - Daisi Oliveira de Souza






Ando devagar, pois quero apreciar a vida
Que passeia ao lado dos  meus passos,
Deixei  a pressa lá atrás, hoje já esquecida,
Tê-la não me fez mais capaz,

Já tive tanta pressa....
Em amar e acreditar que seria  para sempre
Mas sabe-se que pra sempre não existe,
Continuo devagar  a  divagar....
Sabendo que o  amar  é lento
Para quem sabe o que quer e ... persiste,
Sem  pressa ...  o amar é devagar,

Amo  as quatro  estações do ano,
Com elas surgem raras belezas
 cada uma  a  sua  maneira,
Passam devagar , verão, outono , inverno
Aguardo  a  primavera ...
Estação tão bela, mas até ela passa ...

Da  janela vejo a lua  surgindo  ao entardecer,
Lá  vem ela -  toda bela ,
Também sem pressa – faz-me enternecer
E todas as noites me inspira à escrever;

 E tudo vai ,volta, nesse mesmo ritmo ,
Dançando os ciclos da vida
Devagar... Sem  pressa,

Há muito o  que percorrer.


Daisi Oliveira de Souza
In "Sob  O meu Olhar"
Lei 9610/98

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Você e Eu - Daisi Oliveira de Souza




Metamorfose - Daisi Oliveira de Souza









Inútil as tantas nuances tentar decifrar

O quê poeta algum soube explicar,

Aquela que passa em pequenos passos

Deixando seu perfume como rastros



Muito além do que se vê somos mistério,

Cada qual vive o seu particular inferno,

Entre amores risonhos e lágrimas sofridas

A alma não tem peso nem mesmo medida



Somos fortes como a ventania, somos calmaria,

Risos nos lábios com corações despedaçados

Dissimuladas criaturas, sofrem a própria censura,



Em noites quentes – mulheres - feras ardentes

Em manhãs de primavera flores sorridentes;

A metamorfose feminina, ninguém domina.



Daisi  Oliveira de Souza

In " Sob o Meu Olhar"
Lei 9610/98

O Soneto - Alexis Félix Arvers




Tenho na alma um segredo e um mistério na vida:
um amor que nasceu, eterno, num momento.
É sem remédio a dor; trago-a pois escondida,
e aquela que a causou nem sabe o meu tormento.

Por ela hei de passar, sombra despercebida
sempre a seu lado, mas num triste isolamento,
e chegarei ao fim da existência esquecida
sem nada ousar pedir e sem um só lamento.

E ela, que entanto Deus fez terna e complacente,
há de, por seu caminho, ir surda e indiferente
ao murmúrio de amor que sempre a seguirá.

A um austero dever piedosamente presa,
ela dirá lendo estes versos, com certeza:
“Que mulher será esta? ” e não compreenderá.

Alexis-Félix Arvers
(Tradução de Guilherme de Almeida)



Nota: O Soneto de Arvers foi publicado em 1833 e traduzido milhares vezes, para os mais diversos idiomas, inclusive para o Esperanto. Inspirou livros e peças de teatro, que usaram o soneto como tema. É considerado o mais belo soneto do século XIX.



Poema original, em francês e tradução em inglês: Sonnet d’Arvers



“Mon âme a son secret, ma vie a son mystère,
Un amour eternal en un moment conçu;
Le mal est sans espoir, aussi j’ai du le taire,
et celle qui l’a fait n’ena jamais rien su.

Hélas! j’aurai passé près d’elle inaperçu
Toujours à ses cotes et toujours solitaire;
et j’aurai jusqu’au fait mon temps sur la terre
n’osant rien demander, et n’ayant rien reçu.

Pour elle, quoique Dieu l’ait faite bonne et tendre,
Elle ira son chemin, distraite, et sans entendre
Ce murmure d’amour elevé sur ses pas;

à l’austère devoir pieusement fidèle,
elle dira, lisant ces vers tout remplis d’elle,
“Quelle est donc cette femme?” et ne comprendra pas”

Félix Arvers

sábado, 9 de novembro de 2013

Os Filhos - Gibran Kahlil Gibran


 
 
 
(Do Livro "O Profeta")
 
Uma mulher que carregava o filho nos braços disse: "Fala-nos dos filhos."
E ele falou:
           
Vossos filhos não são vossos filhos.           
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.           
Vêm através de vós, mas não de vós.           
E embora vivam convosco, não vos pertencem.           
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,           
Porque eles têm seus próprios pensamentos.           
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;           
Pois suas almas moram na mansão do amanhã,           
Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.           
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,           
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.           
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.           
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força          
Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.           
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:           
Pois assim como ele ama a flecha que voa,           
Ama também o arco que permanece estável.

Aninha e Suas Pedras - Cora Coralina




 
 
Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.

Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.

Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.

Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.

Haicai 4 - Daisi O. de Souza


Haicai 3 - Daisi O. de Souza


Na Lousa do Infinito - Daisi Oliveira de Souza


sábado, 2 de novembro de 2013

O Amor Nunca Morre de Morte Natural ( Fabrício Carpinejar)



O amor nunca morre de morte natural. Añais Nin estava certa.
Morre porque o matamos ou o deixamos morrer.
 
Morre envenenado pela angústia. Morre enforcado pelo abraço. 
 
Morre esfaqueado pelas costas. Morre eletrocutado pela sinceridade. Morre atropelado pela grosseria. Morre sufocado pela desavença.
 
Mortes patéticas, cruéis, sem obituário e missa de sétimo dia.
Mortes sem sangramento. Lavadas. Com os ossos e as lembranças deslocados.
O amor não morre de velhice, em paz com a cama e com a fortuna dos dedos.
 
Morre com um beijo dado sem ênfase. Um dia morno. Uma indiferença. Uma conversa surda. Morre porque queremos que morra. Decidimos que ele está morto. Facilitamos seu estremecimento.
 
O amor não poderia morrer, ele não tem fim. Nós que criamos a despedida por não suportar sua longevidade. Por invejar que ele seja maior do que a nossa vida.
O fim do amor não será suicídio. O amor é sempre homicídio. A boca estará estranhamente carregada.
 
Repassei os olhos pelos meus namoros e casamentos. Permiti que o amor morresse. Eu o vi indo para o mar de noite e não socorri. Eu vi que ele poderia escorregar dos andares da memória e não apressei o corrimão. Não avisei o amor no primeiro sinal de fraqueza. No primeiro acidente. Aceitei que desmoronasse, não levantei as ruínas sobre o passado. Fui orgulhoso e não me arrependi. Meu orgulho não salvou ninguém. O orgulho não salva, o orgulho coleciona mortos.
 
No mínimo, merecia ser incriminado por omissão.
Mas talvez eu tenha matado meus amores. Seja um serial killer. Perigoso, silencioso, como todos os amantes, com aparência inofensiva de balconista. Fiz da dor uma alegria quando não restava alegria.
 
Mato; não confesso e repito os rituais. Escondo o corpo dela em meu próprio corpo. Durmo suando frio e disfarço que foi um pesadelo. Desfaço as pistas e suspeitas assim que termino o relacionamento. Queimo o que fui. E recomeço, com a certeza de que não houve testemunhas.
 
Mato porque não tolero o contraponto. A divergência. Mato porque ela conheceu meu lado escuro e estou envergonhado. Mato e mudo de personalidade, ao invés de conviver com minhas personalidades inacabadas e falhas.
 
Mato porque aguardava o elogio e recebia de volta a verdade.
O amor é perigoso para quem não resolveu seus problemas. O amor delata, o amor incomoda, o amor ofende, fala as coisas mais extraordinárias sem recuar. O amor é a boca suja. O amor repetirá na cozinha o que foi contado em segredo no quarto. O amor vai abrir o assoalho, o porão proibido, fazer faxina em sua casa. Colocar fora o que precisava, reintegrar ao armário o que temia rever.
 
O amor é sempre assassinado. Para confiarmos a nossa vida para outra pessoa, devemos saber o que fizemos antes com ela.